segunda-feira, 18 de maio de 2009

hoje sou este farol

a felicidade

Cada vez mais me convenço que a felicidade é uma perturbação mental, para não dizer, uma doença mental ou psíquica grave. Ninguém no seu perfeito juízo e ninguém suficientemente lúcido consegue ser feliz. Simplesmente não é possível. Enquanto doutoranda tenho momentos de desequilíbrio mental mas, infelizmente, nem nesses momentos consegui apanhar a doença da felicidade: deve ser preciso muito mais do que um desequilíbrio. Só mesmo na loucura total se deve conseguir ser feliz.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

A minha irmã

É difícil escrever sobre a minha irmã - a sombra - que faz parte de mim e da qual eu fazia parte, que cresceu comigo mas que me abandonou cedo de mais, ficando para sempre sombra. A minha irmã chamava-me «arco-iris» e eu chamava-lhe «chiquinha». A diferença na escolha das «alcunhas» é reveladora da essência de cada uma de nós: ela um doce, eu mais palerma; principalmente porque a minha irmã não gostava que eu a chamasse de «chiquinha», dizia que a fazia lembrar um macaquinho amestrado. Acho que tinha razão, mas nem sei como nem quando comecei a atribuir-lhe esse «petit nom».
A minha irmã era um doce, uma pessoa muito meiga, muito atenta aos outros e que era acima de tudo minha amiga, acontecesse o que acontecesse: uma sombra - projecção de mim - que me acompanharia para sempre. Mas não, a sombra deixou-me: deixou-me profundamente só, como se não bastasse a dor. Não há culpas, mas há sofrimento. Apesar das diferenças, a minha irmã era eu e eu era a minha irmã. Com a partida da minha irmã, partiu também a minha infância, as recordações dos vinte e cinco anos que vivi com ela. Ela partiu e eu fiquei. Ainda não sei porquê. A minha irmã chamava-me sempre «meu arco-iris» por isso ainda hoje, quando nos dias de sol e sombra, alguém me diz «Olha o arco-iris! Lindo!», o meu coração fica pequenino, como se mais uma vez fosse atravessado pela mais horrível das dores. É pena, porque o arco-iris é de facto lindo, mas para mim ele é só sombra. A sombra da minha irmã que me acompanha e me deixa tão só.
Amo-te chiquinha
arco-iris