quarta-feira, 15 de julho de 2009

O pesadelo que podem ser os pormenores e os pormenores que podem ser um pesadelo


Na língua inglesa existe um provérbio cuja tradução para português poderia ser «Deus está nos detalhes» (God is in the details). Ora, eu não posso concordar. A mim, os pormenores arruinam-me profundamente a paciência (é evidente e intencional a aliteração em p, é um pormenor mas estou totalmente consciente dele pois para mal dos meus pecados eu estou atenta aos pormenores). Os detalhes da vida e do trabalho podem ser persistentes e terrivelmente enlouquecedores (não sei se a palavra existe mas também não estou muito preocupada pois esse é apenas um pormenor deste texto), e fazem-nos perder imenso tempo; tempo que poderiamos usar de modos mais produtivos. Se a civilização ocidental não tivesse optado por ignorar o pormenor, hoje muito provavelmente não teriamos a produção em massa com todas as vantagens a ela associadas: os preços mais baixos, o acesso generalizado aos produtos, a multiplicação dos objectos, blá e blá e blá (estou ciente das desvantagens da reprodução em massa mas não é disso que estou agora a falar, por essa razão vou saltar esse lado da questão).

Interessa-me, sim, chamar a atenção para a imensidão de tempo que nós perdemos com a porcaria dos pormenores. Se não fossem os pormenores eu, por exemplo, já teria acabado a minha tese. Assim como eles existem, tenho de gastar horas a tê-los em consideração: a melhorá-los, a limá-los, a alterá-los, a penteá-los e a pontapeá-los.

É também à volta dos pormenores que os simpósios/encontros/cimeiras/conferências mundiais, por exemplo, perdem a ambição primeira de alcançar a paz mundial: perdem-se em pormenores: é mesmo isso. Outra das ocasiões em que os pormenores particulares e minuciosos se tornam inoportunos é quando alguém nos fala de outro alguém, e quando a seguir a uma descrição agradável, tipo: «ela é uma miúda simpática» vem, na maioria das vezes, um MAS que introduz um pormenor desastroso, tipo: «ela é uma miúda simpática, MAS tem imenso mau-hálito». O pormenor estraga tudo e vai contribuir em muito para acabar com a simpatia da simpática da miúda.

Enfim, por tudo isto, e ainda pelo facto da maioria dos meus alunos escrever «promenor» em vez de pormenor, sugiro que em vez de dizer «Deus está nos pormenores», se diga «O diabo está nos pormenores» pois é esse que nos azucrina a paciência e nos impede de avançar, e de fazer sem medo.

Um pormenor: não levem muito a sério aquilo que escrevo...