quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Não nos bastamos a nós mesmos

Depois de construir mais de cem ninhos de andorinhas, a Matilde e a miúda estrangeira que estava com ela, ficaram a conversar. Depois daquela dúvida inicial de responder com honestidade à pergunta "Como é que estás?», a Matilde mediu as consequências e decidiu dizer mesmo como estava. E avançar, com coragem, para além do «Está tudo bem.».  Duas horas mais tarde, arrependeu-se um pouco. Mas, na verdade, a vida dela não se basta a ela mesma e a Matilde precisa, com frequência, do olhar do outro para lhe dar existência, forma e um sentido de individualidade, para o bem e para o mal. Esta última, é a mesma frase que se ouve nos casamentos que se veem nas telas ou nos ecrãs. Da ficção para a realidade, é quem ouve e quem nos vê que nos dá forma. Até esse momento, somos apenas mais uma nuvem. Depois disso, somos um carneirinho, um senhor com nariz comprido, uma flor, um pedaço de algodão doce.