segunda-feira, 7 de abril de 2014

Quando olho para os sapatos das pessoas

Acontece, muitas vezes, que quando olho para os sapatos das pessoas, (quase) imediatamente os imagino espalhados pelo quarto da pessoa que os calça, ao lado da cama ou do sofá-cama (há pessoas que têm ar de quem dorme num sofá-cama). A visão de um par de sapatos ou de botas ou de ténis é, para mim, uma janela para a intimidade dos outros. Será assim para mais pessoas? Para mim, é. Nunca pensei muito na razão pela qual a visão dos sapatos nos pés das pessoas me faz avançar por ali fora e imaginar os sapatos espalhados, depois de um fim de dia, cansados, estafados (às vezes), tristes e sozinhos. Na realidade, tenho esse pensamento recorrentemente e muito especialmente se estou em algum sítio sentada com pessoas à volta, como, por exemplo, numa sala de espera de qualquer consulta. Venho para casa e imagino os outros a irem para casa e a descalçarem-se e a abandonarem os seus sapatos pelo chão de quarto. Não creio que lhes agradeçam; que agradeçam aos sapatos pelo facto de lhes terem ajudado a poupar o esforço dos pés.