terça-feira, 23 de julho de 2013

Acordar?

O mar era (estava?) amarelo e a Matilde nadava e flutuava. Leve. Sem peso nem medo. Numa das reviravoltas marítimas, olhou para baixo e viu um espelho. No espelho viu refletido o resultado de um Raio-X. Era ela, mas eram só os seus ossos que via na moldura do espelho. Parecia mesmo uma marioneta. Que divertido! Ainda a olhar para a imagem da sua estrutura no espelho viu passar por entre as costelas os peixinhos mais brilhantes e atrevidos. Tocou-lhes e a maioria fugiu. Ficou um. Deram as mãos, passearam e mascararam-se com algas. Matilde envolta de verde e amarelo. Conseguia respirar e sentia-se tão calma. A alma serena, o corpo ágil como dezenas de colares de pérolas em vez de ossos, cartilagens, articulações, líquidos. Mexia-se conta a conta. Transparente em amarelo e verde. Horas e horas. Abre as pálpebras e ouve o som do berbequim do vizinho que, até ao momento de chegar à superfície, lhe soava ao marido a passar uma sopa de algas e mar.    

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