terça-feira, 30 de julho de 2013

ninhos de andorinhas

A Matilde mudou de roupa e entrou na sala branca de luz azul. Tinha um corte do ombro ao cotovelo e não sabia como o tinha feito. Apesar de tudo, estava tranquila. No entanto, estava surpreendida. Não tinha noção de como tinha feito aquele corte. De dentro do corte saíam luzinhas amarelas, tipo pirilampos. Voltou a mudar de roupa. Perguntaram-lhe o que se passava. Não sabia. Aliás, sabia que tinha o corte de onde saíam estrelinhas mas não sabia como ele tinha aparecido e nem sabia o que fazer para o fechar. Disseram-lhe para esperar ali naquela sala. O primeiro impulso foi trocar de roupa, mas ali não tinha mais nada para vestir. Por isso, sentou-se. Via tudo a preto e branco, exceto as luzinhas douradas que continuavam a sair do seu ombro. Do ombro esquerdo. Ficou na sala à espera, tal como lhe tinham dito ou mandado (ela não tinha a certeza do tom que fora utilizado). Estava ali com uma rapariga que não falava português. Sentou-se na mesa que estava no centro da sala. A rapariga copiou-lhe os movimentos. Estavam as duas sentadas. A tarefa era construírem ninhos de andorinhas. A preto e branco como o resto. A Matilde tentou sempre comunicar com a rapariga. Ensinar-lhe. A rapariga não sabia o que eram andorinhas nem os seus ninhos. Explicou como pode, com gestos e com palavras inglesas, francesas e espanholas. A Matilde começou a construir um ninho, com a intenção de que a outra visse como se fazia e a imitasse. Funcionou. Juntavam pauzinhos e barro e construíram centenas de ninhos. Ninhos para passarinhos a preto e branco. Sem cor como aquele dia da Matilde que, sem saber como, tinha um corte tremendo no ombro esquerdo.

Sem comentários: