Ontem quando a Matilde saiu da escola disseram-lhe as palavras que lhe retiraram o último balão de oxigénio que tinha. Saíram dos lábios do seu pai as palavras que compunham os sons: Vê se aprendes a lição e nunca mais confies em ninguém.
Para ela que no último ano se tinha agarrado quase só e apenas a essa esperança, afirmando milhentas vezes para si mesma – está tudo mal – está mesmo tudo mal – mas ainda posso confiar nas pessoas - aquelas palavras do pai foram o fim. Foram como o paraquedas que não abriu. Durante horas, mesmo muitas horas depois de se estatelar no chão, de cara partida, braços partidos, pernas partidas, aqueles sons não lhe saíam da cabeça. Ela não sabia como iria conseguir. Sempre confiara. A confiança que tinha nos outros era uma das suas fortes características. Fazia parte de si. Era parte da sua condição. Era parte do seu sangue. Agora, e por último, depois de já lhe terem tirado tanta coisa, tiravam-lhe também isso. Só havia um cenário possível: a morte. A morte para os outros é o mesmo que dizer a morte para si. Ontem, depois de ter saído da escola, a Matilde morreu.
2 comentários:
Não, não morreu...
Qual crisálida em metamerfose, quando a muito custo conseguiu furar o casulo, tentou bater as asas, e voou... ao encontro do arco-iris... ao encontro da esperança...
e passou a confiar de novo nos outros... nem todos são maus... são só alguns...
metamorfose (estavas distraída, querida mãe...)
Enviar um comentário